Toma-se banho por muitos motivos: por higiene, por questões religiosas,
por prazer ou ainda com finalidades terapêuticas. Os hindus banhavam-se no
sagrado Rio Ganges para se purificarem. Os gregos adotaram o banho como
possibilidade saudável e prazerosa. Os turcos, em suas saunas, introduziram na
água ervas aromáticas e os Egípcios entregavam-se aos cuidados do deus Thot,
devotado a medicina.
Mas foi entre os antigos romanos que o banho notabilizou-se. Para eles o
assunto era sério, tratava de higiene, uma questão de Estado. Onde estiveram os
romanos, construíram termas, pois, ir a elas, era bem mais do que se banhar em
águas, mas, sobretudo, estar num ambiente em que se apresentavam poetas, se
ouvia boa música, se falava das últimas notícias, ou seja, desfrutava-se de
prazeres imperiais.
Há uma casa de banhos descrita na bíblia sagrada. Mas, diferentemente do
ambiente prazeroso e inspirador das termas romanas, ela era um local de
sofrimento, de dor, de solidão e de morte. Nesta casa não havia divertimentos,
nem poesia, nem canções. Contudo, conforme a descrição de João, neste local de
horrores um encontro improvável aconteceu. Nele, um homem enfermo, desenganado
da vida, deparou-se com Jesus e, a partir de então, sua existência nunca mais
foi à mesma.
Abram suas bíblias no evangelho segundo a ótica de João capítulo 5: 1 ao
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Pense comigo: o que faz alguém se arrastar durante trinta e oito anos,
dezenas, centenas de vezes para mergulhar em um tanque, mesmo sabendo que seu
intento será frustrado, pois outros irão correr a sua frente? Numa resposta
simplória, você poderá dizer que ele queria ser curado. Este era o motivo, a
razão de tamanha perseverança. Será mesmo?
O tanque de betesda era uma casa apinhada, cheia, lotada de gente, um
lugar de sofrimento, de dor e de morte, um local para a escória, os doentes, os
feridos e desesperançados. Tratava-se do último recurso, o paradeiro derradeiro
da existência, a opção final. As pessoas ficavam ali por anos, agonizando, sem
amparo, sem afeto, sem nenhum tipo de assistência e, por fim, morriam.
Aprendi que existe um enorme perigo na agonia e na dor prolongadas
porque este estado dissolve a alma, tritura as emoções, desconstrói a esperança
e, por conta disto, leva-nos, mais cedo ou mais tarde, a desistir da vida. Nós
não nos apercebemos, mas, não raro, inconscientemente, somos compelidos a
acariciar o sofrimento, acolhermos as nossas mazelas de tal forma a,
simplesmente, irmos levando a vida, “abraçarmos” a dor. “Viver é sofrer”. O
acumular do sofrimento que se interpõe em nossa caminhada acaba nos arrastando,
existencialmente, para um “tanque de betesda”. E o tempo passa, as dores se
aprofundam, as tristezas se acumulam, e vamos ficando ali, amargurados,
machucados, sofridos, solitários, aguardando que, um dia, quem sabe, algo
sobrenatural nos alcance e nos resgate de volta para a vida.
Tenho encontrado muitos assim, deitadas à beira de um “tanque de
betesda”. Pessoas cuja enfermidade física, emocional ou espiritual, (se pode-se
falar assim, pois acredito no ser humano num todo, integral), já tatuou-se na
alma, alojou-se no ser, tornou-se o centro da consciência. Para tais pessoas, é
impossível voltar a ver-se sem este “aleijão”, sem esta “deformidade”. Mas
Jesus, a partir do texto, nos dá 3 motivos para pensarmos diferente.
O primeiro é que Ele está identificado com o sofrimento humano. Se você prestar
atenção no texto, verá que, inicialmente, Jesus estava em uma festa em
Jerusalém. Sim, circulava entre risos, pessoas cheirosas, boas conversas, boa
comida, alegria e prazer. Mas, de repente, sem qualquer explicação, largou
tudo, andou cerca de 3 quilômetros e entrou em um outro tipo de ambiente, num
lugar onde as expressões eram outras, o aroma era outro, as motivações eram
outras. Era o tanque de betesda, uma casa de morte, de gemidos, de gente
agonizando.
Quero lhe dizer algo: Jesus largou a festa para ir de encontro à
aflição, abriu mão de sua divindade para encarnar como homem, esvaziou-se a si
mesmo para ser reconhecido em figura humana – carne, sangue, suor e lágrimas –
abandonou a eternidade para entrar na história, abdicou da vida para ir de
encontro à morte, largou a glória para estar na cruz e, por conta disto, de tão
identificado que está com nossas misérias, deixará qualquer coisa para abraçar
aquele de coração quebrantado e espírito contrito, tanto lá naquele tanque
quanto aqui nesta noite.
O segundo motivo é que Jesus está compromissado com as pessoas de forma
individual. Naquela casa havia milhares de pessoas, umas apertando-se contra as
outras. Mas, naquele dia, Jesus tinha um encontro marcado com aquele homem. Não
havia uma noite que ele não sonhasse em ser restaurado, mas a desesperança
havia tomado trono no seu coração. Suas lágrimas já haviam secado.
Aquele encontro, todavia, estava marcado desde a eternidade. Sim, Jesus
quer encontrar-se com todo aquele que deseja levantar-se de seu “leito de
enfermidade”, pois Ele quer salvar o caído, o perdido, o excluído, quer sarar
feridas, apaziguar consciências, reconstruir interiores, dar prazer e
significado aos nossos dias. Muitos estavam ali naquele local, mas apenas
aquele homem sonhava em ser mais do que curado, ele queria ser salvo! Os outros
esperavam o “sobrenatural”, o “anjo” que movia as águas, mas aquele homem
aguardava a redenção de seus pecados e, por isso, foi contemplado.
O último motivo que desejo expor é que o sacrifício de Jesus é
suficiente para todos, mas eficiente apenas para os que crêem. Ao encontrar aquele
moribundo, naquele dia, o Galileu lhe fez uma pergunta absurda: “queres ser
curado?”. Ora, havia trinta e oito anos que aquele homem sentia o coração
agitado quando o vento ficava mais forte, e gritava por alguém que o levasse
até a água. Durante trinta e oito anos ele se arrastou com sofreguidão até a
beira do tanque, mas outros chegavam primeiro e tiravam a sua oportunidade. Em
trinta e oito anos ele guardou apenas um sonho: andar com vigor pelas ruas de
Jerusalém, voltar a sentir-se inteiro, integral, íntegro.
Aí, de repente, o Deus-Homem o encara na inteireza de quem ele é, com
seus desejos e fracassos, sonhos e frustrações. Sim, apenas um olhar foi
suficiente para Jesus desvendar tudo o que se passava em sua alma, algo como um
“scanner” sobrenatural o varreu de cima a baixo, discerniu toda sua vida, nosso
Jesus é assim, sabe de todas as nossas lutas, angústias, decepções e tristezas,
nada pôde ficar encoberto, escondido, tudo foi revelado; medos, dores e dramas.
“Queres ser curado? Sim quero! Então levanta-te, toma o teu leito e
anda!”.
Eu creio que todos nós almejamos por encontrar um “tanque de betesda”,
um lugar onde possamos nos chegar e nos lavar das nossas imundices, um ambiente
que produza em nós paz, liberdade, saúde e bem. É bem provável que, “a esta
altura do campeonato”, você já saiba que a vida não é uma terma romana, com
águas relaxantes, nem tão pouco uma casa turca, com aromas e perfumes. Não. A
vida está mais para “betesda” do que para qualquer outra coisa.
No fundo,
parece que todo ser humano vive a beira deste “tanque”, em busca deste
encontro. O mesmo Jesus, todavia, que buscou aquele homem no fundo do poço,
deseja hoje encontrar você, estejas onde estiveres, mergulhado no mais profundo
abismo, esquecida num quarto de apartamento, drogado numa esquina de uma
metrópole, prostituída num quarto de motel, afundado em dívidas ou largada da
família e dos filhos. Saiba, aquele mesmo olhar ainda anda por aí, apenas
desejando encontrar um outro que lhe corresponda e uma voz que lhe diga: “Sim,
Senhor, eu quero ser curado!”.
Este é o
momento da sua decisão
Minha
oração neste momento
Toda
honra e glória seja dada a Deus!
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